Uma Noite das Bruxas horripilante


Seguindo um apelo quase natural, como um instinto que tivesse nascido com eles, um grupo de amigos norte-americanos juntou-se para celebrar o Halloween.
Puma
Liderados pelo Pedro Puma, tinham combinado preparar-se a rigor. Vestiram uns fatos horripilantes, deixaram uma abóbora monstruosa acesa à porta de cada uma das suas casas e foram assustar os vizinhos.
Eles sabiam que em Portugal o costume era ir ao “pão-por-Deus” na manhã seguinte, mas estavam determinados a pedir “doce ou travessura” naquela noite e logo se veria o que lhes acontecia.
Talvez fossem melhor as travessuras, porque os doces fazem mal aos dentes e nenhum tinha a sorte do aligátor, de estar sempre a mudá-los. Assim que lhe cai um dente, nasce-lhe logo outro para o substituir.
Ainda assim, não fossem os vizinhos enchê-los de doces ou outros alimentos, convidaram o pelicano, que até é de outras paragens, para ir com eles. Dá sempre jeito ter uma bolsa elástica por perto nestas ocasiões.
Cada um se ia gabando dos seus fatos e das suas habilidades. Ninguém calava a tartaruga-de-orelhas-vermelhas enquanto tentava imitar o Raphael, dizendo-se invencível com os seus truques de tartaruga-ninja.
Passado o sobressalto, dirigiram-se confiantes para uma zona mais escura e isolada. O bisonte encabeçava o grupo com o seu magnífico disfarce de Frankenstein, uma cabeça enorme com os cornos a fazer de parafusos.
Tinham ouvido falar da Magda e queriam vê-la com os seus próprios olhos. Quando lhe bateram à porta e ela apareceu na penumbra, cabeça calva, pele enrugada e um bico curvado a fazer sons arrepiantes, não esperaram para ver melhor quem seria e puseram-se a correr dali para fora. Magda, o grifo, que estava a dar uma festa em sua casa nem teve tempo para os convidar para entrar.
Pecari
Pipa, o pecari-de-colar, não estava nada satisfeita. Tinha vestido o fato preto de colarinho branco e usava os seus melhores dentes. Estava segura de que seria um vampiro absolutamente assustador. Insistia em visitar o David, o monstro-de-gila. “Não pode meter assim tanto medo!”, pensava. Mas quando ele abriu a porta a bocejar de sono, e ela olhou bem para aquela boca enorme, com uma língua bifurcada do lado de fora, depressa perdeu a coragem e saiu dali em passo acelerado.
David nem percebeu o que aconteceu, tinha-se esquecido que era Noite das Bruxas.
O grupo de amigos seguiu, então, por outro caminho. Tinham de treinar os sons sinistros, se queriam ser realmente aterradores. Mas quando um vulto branco e silencioso sobrevoou as suas cabeças, gritaram: “É um fantasma!”. E correram até já não terem fôlego.
Nelo, a coruja-das-neves, pousou num ramo próximo e riu até lhe doer a barriga. Que belo susto havia pregado àqueles jovens malandros.
Os amigos já estavam fartos daquela brincadeira, queriam tanto amedrontar os vizinhos e quem acabou cheio de medo foram eles.
Voltaram para casa.
No dia seguinte levariam um saquinho de pano para ir ao “pão-por-Deus”. Era mais seguro.