As
fabulosas cinco
nasceram no coberto da noite, iluminadas pelos grandes relâmpagos. O
esconderijo escolhido pela mãe conseguia mantê-las abrigadas da chuva intensa
que se fazia sentir. Contudo este abrigo não conseguiu esconder o seu nascimento
- a família tagarela de pavões tratou de espalhar a mensagem por todo o lado.
No seu
refúgio ouviam zurros, bramidos e piados... Ouviam a chuva, o vento e as
trovoadas... Mas passaram quase dez dias antes de conseguirem abrir os olhos ao
mundo.
Riram-se
umas das outras por causa do seu aspeto despenteado. Por muito que a carinhosa
mãe as lambesse, a sua juba clara havia de ficar sempre espetada como um
ouriço.
À medida que
iam crescendo, estas fabulosas cinco chitas, tornavam-se cada vez mais
corajosas. Saíam do esconderijo durante o dia para brincarem umas com as
outras: às “pintas escondidas”, às “patas velozes” ou ao “apanha a cauda”. A
única coisa que não podiam fazer era sair do território da Mãe-Chita.
Certa noite,
combinaram que iriam sair às escondidas e explorar o que havia para além do seu
território, descobrir onde dormiam os outros animais.
Como era
muito medroso, o Neco deixou-se ficar bem aconchegado no seu canto, não queria
participar nas aventuras dos seus irmãos. Além disso, a Mãe-Chita tinha um sono
leve e ia descobri-los de certeza. Quando ouviu as patinhas pequenas agitadas a
altas horas da noite percebeu que os seus pequenotes estavam a tramar alguma
coisa.
Tentou
segui-los mas a meio caminho eles separaram-se e ela ficou confusa.
A Mia foi
descendo pelos caminhos. O frio aumentava e ela sentiu necessidade de procurar
guarida. Naquele sítio estava tudo muito escuro e muito quente. Quando os seus
olhos se habituaram à escuridão estava a um palmo da boca recheada de dentes do
aligátor. Correu assustada até chocar contra algo que não sabia explicar o que
era. Só soube que do outro lado estavam uns grandes olhos e uma língua a sair e
a entrar de uma boca. De um salto escondeu-se atrás da pedra mais próxima...
Mas esta mexeu-se!!!
Gritou até
chegar à rua e encontrou à sua espera a Mãe-Chita que a levou para casa.
Entrando
naquilo que lhe parecera um templo, o Tito tentou caminhar pé ante pé, mas
tinha pouco jeito para bailarino e as suas garras a bater no chão, no silêncio
da noite, acordaram os chimpanzés que desataram aos gritos numa enorme
algazarra.
Tentou fugir
mas deu de caras com o gorila, zangado por ter sido interrompido no seu sono.
Não sabia
para onde escapar até que o braço longo do orangotango o tirou daquela confusão
e o entregou à Mãe-Chita que o levou para casa.
Sem se
aperceber do que tinha acontecido com os seus irmãos, a Leca avançava
cautelosamente. Ouvira os pavões dizerem que ali viviam tigres. E ela queria
vê-los com os seus próprios olhos. Não que ela não gostasse de ser uma chita,
mas os tigres eram os reis dos felinos, grandes e majestosos, e muito fortes.
Tinha chegado ao sítio que os pavões lhe indicaram e decidiu subir a um
sobreiro ali perto para poder observar sem ser observada.
Os dois
tigres passeavam juntos, lentamente, paravam, lambiam-se, deitavam-se,
caminhavam novamente. “Devem ser namorados!”, exclamou baixinho. Mas a
kokaburra ouviu e riu-se do seu comentário. Com o susto caiu ao chão e as
araras acordaram num grande alvoroço.
Foi um instante
enquanto a Mãe-Chita chegou e a levou para casa.
Enquanto
isto, o Jac tinha-se afastado mais do que os outros e estava tão cansado que só
lhe apetecia dormir.
O dia já
estava a nascer e a Mãe-Chita estava muito preocupada por ainda não ter
encontrado a sua cria.
Quando Jac
acordou tinha uns quantos pares de olhos espantados à sua volta.
“Quem és
tu?”, perguntou o nandu.
“O que te
traz?”, perguntou o goraz.
“Porque me
olhas assim?”, perguntou o guaxinim.
Chegou o
grifo com um ar mal humorado, pegou na chita com as fortes patas, levantou vôo
e levou-o para casa.
Com as suas
crias todas reunidas novamente, a Mãe-Chita não sabia se as havia de pôr de
castigo ou se havia de rir das aventuras que tinham para contar. Afinal eram
estas coisas que as tornariam nas fabulosas cinco chitas guerreiras que
deveriam ser.