Poderia estar a falar do cão, dito o melhor amigo do Homem,
mas hoje vou falar do bacalhau, chamado “fiel amigo” na altura em que era
acessível a todas as pessoas e que por isso se tornou tão popular na
gastronomia portuguesa. Efetivamente, um terço do pescado consumido em Portugal
é bacalhau, e os portugueses são os maiores consumidores de bacalhau do mundo.
Mas afinal o que é o bacalhau?
Quando falamos do “verdadeiro” bacalhau normalmente
referimo-nos ao bacalhau-do-atlântico (Gadus morhua), mas bacalhau pode
ser usado como nome comum para várias espécies de peixes, muitas delas dentro
da família Gadidae. Salgado e seco, compramos bacalhau-do-pacífico (Gadus
macrocephalus), escamudo (Pollachius virens) ou zarbo (Brosme brosme), sob o nome comercial
de bacalhau.
A ordem dos Gadiformes inclui, para além do bacalhau, a
maruca (Molva molva), o badejo (Pollachius pollachius) e a
pescada (várias espécies, p. ex. família Merlucciidae). Estes peixes produzem
mais ovos do que qualquer outra ordem, mas como vivem mais tempo atingem a
maturidade sexual mais tarde, ficando suscetíveis à sobrepesca e,
consequentemente, tornando-se espécies ameaçadas.
Bacalhau-do-atlântico |
O bacalhau-do-atlântico vive no Atlântico Norte em águas
frias, que podem oscilar ente 0ºC (no inverno) e 20ºC (no verão). É um peixe
migrador que pode fazer vários quilómetros entre as zonas de alimentação no
oceano e as zonas de desova junto à costa. Podem desovar entre 10 a 20 vezes
num período de 2-3 meses, após atingirem a maturidade sexual [2-4 anos (40cm)
em populações costeiras mais a sul ou 6-9 anos (60cm) em populações oceânicas
mais a norte]. São omnívoros e podem incluir na sua dieta os próprios juvenis.
Atualmente é considerado uma espécie vulnerável segundo os
estatutos de ameaça da União Internacional para a Conservação da Natureza
(UICN). As técnicas de pesca utilizadas, principalmente redes de arrasto, para
além de esgotarem os stocks desta espécie, destroem os fundos marinhos e
apanham acidentalmente outras espécies ameaçadas como, p. ex., o alabote-da-gronelândia
(Reinhardtius hippoglossoides).
Para minimizar o impacto da pesca sobre o
bacalhau-do-atlântico devemos reduzir os consumos e escolher peixe capturado de
forma sustentável, rejeitando o que provém de zonas com os stocks em declínio. Neste
momento, as pescas no Mar de Barents, parecem ser a melhor opção, desde que não
sejam usadas redes de arrasto. No entanto, é necessário que a Comissão Conjunta
para a Pesca da Noruega e Rússia, que gere este stock, controle a pesca
intensiva neste local.